Descubro, olhando pela janela,
que viver é bom.
Como é bom o carinho do filho,
o olhar do amante, o beijo desejado,
a chuva que molha o rosto em dia de calor,
sol batendo na pele, a água correndo pelas mãos.
Como é bom amar o que se faz,
conhecer pessoas indiscriminadamente,
ouvir a canção perdida,
dar a gargalhada que explode a alegria,
servir, cuidar, amar e amar incondicionalmente.
Saber de tudo um pouco,
esquecer a mágoa e fugir da tristeza,
ouvir o silêncio das palavras
e deixar o coração guiar o caminho.
Olho pela janela e descubro que viver é bom.
Mas como dói.
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
Três marias
são apenas três marias.
juntinhas partilham anseios,
juntinhas dividem suas dores,
juntinhas caminham caminhos,
juntinhas exorcisam receios.
são apenas três marias,
formigas trabalhadeiras,
Helenas sem cavalos de batalha,
inquestionavelmente,
pequenas grandes guerreiras
juntinhas partilham anseios,
juntinhas dividem suas dores,
juntinhas caminham caminhos,
juntinhas exorcisam receios.
são apenas três marias,
formigas trabalhadeiras,
Helenas sem cavalos de batalha,
inquestionavelmente,
pequenas grandes guerreiras
Ao meu pai, no seu dia
De repente não tinha pai.
No escuro de minha casa procuro recompor tua lembrança
Depois de tanta ausência. Fragmentos da infância
Boiaram do mar de minhas lágrimas. Vi-me eu menina
Correndo ao teu encontro.
Deste-nos ombro e amor. A mim me deste
A suprema herança: a capacidade de amar
Em silêncio. Partiste um dia
Tua morte, como todas, foi simples.
É coisa simples a morte.
Dói, depois sossega.
Não és, como não serás nunca para mim
Um cadáver sob um lençol...
Por tudo o que não nos deste
Obrigada, meu pai.
Não te direi adeus, de vez que acordaste em mim
Com exatidão nunca sonhada
A imagem de pai inesquecível.
No escuro de minha casa procuro recompor tua lembrança
Depois de tanta ausência. Fragmentos da infância
Boiaram do mar de minhas lágrimas. Vi-me eu menina
Correndo ao teu encontro.
Deste-nos ombro e amor. A mim me deste
A suprema herança: a capacidade de amar
Em silêncio. Partiste um dia
Tua morte, como todas, foi simples.
É coisa simples a morte.
Dói, depois sossega.
Não és, como não serás nunca para mim
Um cadáver sob um lençol...
Por tudo o que não nos deste
Obrigada, meu pai.
Não te direi adeus, de vez que acordaste em mim
Com exatidão nunca sonhada
A imagem de pai inesquecível.
Mulher, 40 graus à sombra
Quando nasci, um anjo quieto, sereno, calmo e chorão disse: Vai, cumprir sua sina, fundar reinos, inaugurar linhagens... A tristeza não será sua irmã, mas a alegria, esta, sua grande companheira. Um dos dedos da mão de uma família de cinco (talvez o mindinho), cresci magra e miúda, verdadeiramente uma menina-diaba, de cabelos crespos e indomáveis.
Recebi de mamãe e de papai uma criação que me ensinou a ser responsável e a dividir com meus irmãos afeto, cuidados e respeito. Com meus irmãos, aprendo, todos os dias, que dificuldades veem, mas passam; que respeito é bom; e que família é tudo! Compartilho dores e sabores, alegrias e tempestades, a observação de que viver é bom, e de que a voz do sangue é forte e inquestionável.
Comecei a trabalhar muito cedo, escolhi o ofício porque tive o melhor dos espelhos: minha mãe. Com ela aprendi a arte do magistério. Acho que sempre quis fazer tudo parar agradar minha mãe. Acho, não. Tenho certeza. E disto nunca me arrependo!
Pude experimentar a glória de ser mãe. Aliás, sempre me orgulhei de ser mãe, em primeiro lugar. Filhos? Melhor não tê-los. Mas se não os temos como sabê-los? Como saber que macieza nos seus cabelos que cheiro morno na sua carne que gosto doce na sua boca! Chupam gilete, bebem xampu, ateiam fogo no quarteirão. Porém, que coisa que coisa louca, que coisa linda que os meus filhos são! Acho que cumpri direitinho meu papel. E me orgulho disto também.
O tempo passou e outras pessoas entraram em minha vida. Fiz companheiros e amigos verdadeiros. Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Conheci lugares e pessoas. Cresci. Transgredi para viver. Mas a menina ainda mora cá dentro. Tenho em mim todos os sonhos do mundo. Busco a terra sem vento, a mansa terra. E a batida surda e quente do magma mais profundo, para embalar o meu sono. Busco a tranqüilidade da enseada. Já conheci as águas que é preciso saber. Fui bem além das colunas de Hércules e há muito descobri que por mais longe o mar, jamais despenca. Lancei meu canto por entre espumas, encantei marinheiros. E eu própria naveguei, seguindo as estrelas do céu, contando as estrelas do mar, até chegar a portos dos quais nem suspeitava a existência. Agora é tempo de lançar as tranças na água e deixar que se enlacem nos rochedos, ancorando-me ao meu destino.
Agradeço a Deus a bênção da vida e peço: tende piedade, Senhor, de todas as mulheres porque ninguém mais merece tanto amor e amizade.
Recebi de mamãe e de papai uma criação que me ensinou a ser responsável e a dividir com meus irmãos afeto, cuidados e respeito. Com meus irmãos, aprendo, todos os dias, que dificuldades veem, mas passam; que respeito é bom; e que família é tudo! Compartilho dores e sabores, alegrias e tempestades, a observação de que viver é bom, e de que a voz do sangue é forte e inquestionável.
Comecei a trabalhar muito cedo, escolhi o ofício porque tive o melhor dos espelhos: minha mãe. Com ela aprendi a arte do magistério. Acho que sempre quis fazer tudo parar agradar minha mãe. Acho, não. Tenho certeza. E disto nunca me arrependo!
Pude experimentar a glória de ser mãe. Aliás, sempre me orgulhei de ser mãe, em primeiro lugar. Filhos? Melhor não tê-los. Mas se não os temos como sabê-los? Como saber que macieza nos seus cabelos que cheiro morno na sua carne que gosto doce na sua boca! Chupam gilete, bebem xampu, ateiam fogo no quarteirão. Porém, que coisa que coisa louca, que coisa linda que os meus filhos são! Acho que cumpri direitinho meu papel. E me orgulho disto também.
O tempo passou e outras pessoas entraram em minha vida. Fiz companheiros e amigos verdadeiros. Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Conheci lugares e pessoas. Cresci. Transgredi para viver. Mas a menina ainda mora cá dentro. Tenho em mim todos os sonhos do mundo. Busco a terra sem vento, a mansa terra. E a batida surda e quente do magma mais profundo, para embalar o meu sono. Busco a tranqüilidade da enseada. Já conheci as águas que é preciso saber. Fui bem além das colunas de Hércules e há muito descobri que por mais longe o mar, jamais despenca. Lancei meu canto por entre espumas, encantei marinheiros. E eu própria naveguei, seguindo as estrelas do céu, contando as estrelas do mar, até chegar a portos dos quais nem suspeitava a existência. Agora é tempo de lançar as tranças na água e deixar que se enlacem nos rochedos, ancorando-me ao meu destino.
Agradeço a Deus a bênção da vida e peço: tende piedade, Senhor, de todas as mulheres porque ninguém mais merece tanto amor e amizade.
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